quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Jornalistas e “jornaleiros”


Em democracia é inegável o papel da comunicação social e dos jornalistas. Eles possuem, entre outros, o honroso dever de informar, de forma imparcial e isenta, sobre a “res publica”, ou seja, sobre todos os assuntos de interesse público que afectam o andamento e/ou futuro do nosso país e, também, conforme a situação, região.

Nos tempos que correm, vemos, cada vez mais, que certos órgãos de comunicação social “perderam” a imparcialidade e a isenção intrínsecas da função. Aliás, na recente “maratona” de actos eleitorais foi notória a parcialidade de certos órgãos de comunicação social que divulgaram inúmeras notícias revestidas de uma suposta isenção e imparcialidade, mas que, na verdade, eram autênticos e descarados artigos de opinião eleitoral e de deturpação da verdade, procurando, desta forma, influenciar a opinião pública. No fundo, tentaram partir de uma posição supostamente isenta e de confiança pública para “vender” uma determinada opinião ou posicionamento político como sendo uma “verdade”.

Ora, este tipo de situações, para além de inaceitáveis e repugnantes, violam demarcadamente o código deontológico dos jornalistas que, logo no 1º artigo, deixa bem claro:

O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.”

Posto isto, atendendo que tal normativo é claro quanto baste, apenas complemento que os jornalistas que cumprem o respectivo código deontológico são membros fulcrais da nossa sociedade, merecedores do maior respeito e consideração. Os outros são “jornaleiros”…
Ilídio Leite

6 comentários:

Eduardo Sousa disse...

O problema está no facto de não haver ninguém que faça a distinção entre jornalistas e jornaleiros...Não existe coragem para fiscalizar o trabalho dos jornalistas e aqueles que deviam ser punidos (os jornaleiros) não o são, saem sempre impunes!
Portugal viveu muitos anos assombrado pela censura, quando finalmente a liberdade nos foi devolvida os jornalistas ganharam uma espécie de áurea, fazendo com que ninguém lhes possa tocar...e não é assim, tal como em todas as outras profissões somos punidos quando erramos também os jornalistas o devem ser...O facto é que não me lembro de nenhum jornalista punido por ter violado o seu código de ética...Estranho! Por mais que os jornalistas não o aceitem, estes não podem dizer o que quiserem enquanto jornalistas...Podem fazê-lo enquanto cidadão agora enquanto profissional não!

Unknown disse...

Não podia concordar mais com aquilo que disseste... agora diz-me o que pensas do José Manuel Fernandes, director do Publico. E já agora, o que achas de ele ter estado presente num jantar de apoio a Manuela Ferreira Leite?
Abraço
Pedro Silva

João Almeida disse...

Meu caro,

Devo dizer que concordo em ampla medida com o teor do artigo.

É um facto que grande parte da classe jornalística subitamente se esqueceu da sua real função: informar. Ora, como bem referes, informar não significa o mesmo que comentar. Um jornalista que não informa não é um jornalista. Na televisão há espaço para tudo e para todos: jornalistas e comentadores. Que cada um saiba desempenhar as suas funções, que já não faz pouco!

Mas ainda assim o fenómeno que considero mais curioso é outro. Esses jornalistas que em todos os espaços informativos fazem o favor de nos tentarem encher a cabeça com suas opiniões - sejam elas mais ou menos acertadas - sabem, por certo, que ao fazê-lo prestam um mau serviço a todos nós. Como podem não saber? Mas não só isso não os impede de o fazer, como parece até que por assim ser o fazem com mais convicção. Será que nenhum colega de progfissão se revolta?
É que, muito sinceramente, acho que mais do que intrusivos... são chatos.

Ilídio Leite disse...

Eduardo,

quando muitas pessoas colocam em causa a isenção da própria ERC...

Pedro,

Não existe mal nenhum na presença do José manuel fernandes num acontecimento político. Também ele tem direito a exercer activamente a sua cidadania. Um jornalista não é um ser acéfalo, pode e deve ter convicções políticas.
Deve é saber separar as águas, ou seja, manter a vertente isenta da notícia, devendo, querendo, manifestar a respectiva opinião claramente enquanto tal, não como notícia supostamente isenta.
Não considero o Público um jornal manifestamente tendencioso... No entanto é inegável que a sua linha editorial é assumidamente próxima da direita pelos colunistas que habitualmente escrevem a sua opinião, não pelas notícias publicadas.
Agora, se queres exemplo de órgãos de comunicação tendenciosos, tens o inevitável jornal nacional da TVI e o Diário de notícias que fez uma descarada campanha ao governo PS. Mas este "cancro" não afecta apenas o jornalismo nacional, temos tristes e escandalosos exemplos no chamado jornalismo local...

João,

já devias saber... existem muitos interesses a suportar tal status quo, nomeadamente interesses económicos... O jornalismo é um mundo bastante peculiar no seu funcionamento e na sua lógica empresarial...

Unknown disse...

Não existe problema nenhum na presença do José Manuel Fernandes num acontecimento
politico até ele "transportar" as suas convicções politicas para a linha editorial
do jornal e isso não acontece só nos artigos de opinião, mas também, por exemplo,
nas capas, manchetes, layouts, etc... de toda a publicação. E sim, é um jornal
tendencioso.
Nos Estados Unidos,por exemplo, vemos este apoio político ser levado a outro nivel,
quando os editores assumem o seu apoio aos candidatos...

Quanto ao jornal da TVI e afins... é de facto vergonhoso, mas no fim de contas o
povo consome e define assim as regras do jogo. 100% de acordo com uma eventual entidade
reguladora da comunicação social.

Depois é obvio que estes problemas atingem o jornalismo local de maneira ainda mais
evidente... mas eu tenho total confiança na cumprimento ético do Labor e O Regional :D

Ilídio Leite disse...

Pedro,

O problema é que já existe uma entidade reguladora da comunicação(ERC)...
Nos Estados Unidos vive-se uma realidade diferente, como bem dizes, existindo jornais com uma linha editorial demarcada em determinado campo político. Mas ao menos toda a gente sabe em que equipa eles estão a jogar, por assim dizer...